“Notas”- 17/05/2020

Sobre o Coronavírus e o Pós-PT

Não tenho escrito no blog; que diria que não fosse repetição dos lugares comuns mais em uso? Não há muito a dizer, exceto lamentar os mortos, e advertir contra a miséria que só começará ser contabilizada quando a vida voltar ao que se conhece por “normal”, causada por uma quarentena que não tem sido capaz de deter o avanço do vírus..

Há quem garanta que muita morte tem sido contada como decorrente do vírus sem o ser, e como não sou médico, nem disponho dos dados, prefiro não ecoar as acusações.Mas é nítida a utilização destas mortes como arma política. Seriam os membros da casta acadêmica e agregados tão prontos a acusar o Governo fosse este algum de seu agrado?

Não se observaria que o Governo foi, como em muitos países, pego de surpresa? Não se advertiria contra abuso de simplificações e dedos em riste?

Mas como meu pai me ensinou, ”não há ‘se’ em História”; Jair Bolsonaro teve a absoluta má sorte de ser o Presidente  quando da visita deste pesadelo de mortes às centenas por dia.

Fosse um Governo mais enérgico (e menos teatral) talvez não fosse tão cuspido, tão alvo de toda tentativa de desmoralização. Bolsonaro chamasse a Imprensa logo após a decisão do STF dando aos estados e municípios autoridade absoluta no tratamento da pandemia e comunicasse que seu mandato acabava, por esta decisão, de ser anulado e assim as eleições, muito do que se viu de prisões de cidadãos (e soltura de condenados) e exibições de autoritarismo de prefeitos e governadores não teria sido inibido? Mas não houve este gesto de energia, Bolsonaro continuando o mandato como se este não houvesse sofrido uma mutilação de autoridade. E o que muitos estão sofrendo no Brasil é consequência, apenas,  desta decisão de continuar o jogo como nada de anormal tivesse ocorrido.

(Escrevi sobre este feitio de Bolsonaro logo no início do seu mandato; acusações de que teria fabricado o atentado não sofrendo qualquer processo ou protesto mais  enérgico do seu grupo; “o que vem de baixo não atinge” parecendo ser o lema)

O Pós -PT (o sistema substituto do sistema do PT e associados, sistema formado pelo próprio PT, mais PSOL e PSDB e siglas associadas) soube perceber nesta pandemia e na resposta tardia do Governo a oportunidade de adiantar o relógio histórico; nada de esperar pelo fim do mandato e pelas próximas eleições, o impeachment por toda sorte de pretextos (de suposta sonegação de exames presidenciais a “quebras de isolamento”) figurando como item obrigatório nas discussões do futuro político imediato.Não é obrigatório o senso de ridículo nesta corrida ao Poder.

Colunistas simpáticos tanto ao PSOL quanto ao PSDB não disfarçam o tom hostil aos eleitores de Bolsonaro;  “gado”, “idiotas cúmplices de um genocídio”, “assassinos”, “imbecis”: a cobrança por estes eleitores terem demitidos jornalistas e gente do mundo dos espetáculos da função de conselheiros eleitorais sendo apresentada sem maquiagem.

Alguns destes colunistas vindo de cobranças recentes por suas ligações com o PSDB compram assim também seu ingresso na realidade do Pós – PT.

Não deixam de escrever textos divertidos; suas visões de mundo (sobre isolamento,por exemplo) ilustrativas da experiência de mundo através das bolhas sociais a que pertencem me arrancam gargalhadas; evito lê-los nas horas avançadas.. Nada que exista fora do limite dos bairros grã finos que habitam é imaginável por estes cronistas de amenidades: pessoas “furando a quarentena” por ausência de empregados ou falta de dinheiro para pagar taxas de entregadores ou por necessitarem trabalhar, por exemplo. Personagens de novela de Manoel Carlos que são, não imaginam o que é confinamento em apartamentos exíguos ou barracos. Ora, se eles podem suportar do alto de suas coberturas o isolamento…e inspirados pela contemplação do que imaginam ser o universo dos “insensíveis pelo sofrimento alheio” cometem mais um artigo. Cometem muitos, dia depois de dia.

Claro que me divirto imaginando alguns destes colunistas oferecendo aos comissários do futuro estes textos ofensivos (quando não ameaçadores. Alguns destes colunistas escrevem como que promotores de um tribunal vindouro; imaginam cobranças históricas, asseguram que “com fascistas não há diálogo”, etc) aos eleitores de Bolsonaro como prova de que não são os “coxinhas do PSDB”que militantes do PT, PC do B e PSOL decerto os acusarão de ser (“acham que esquecemos o que vocês escreveram contra Lula, contra o PT? Vocês também são culpados disto aí, he, he”) .

(Dos artistas nada cobro, nada espero. Cobrar de gente com pouca ou nenhuma leitura, escrava do juízo da categoria sobre si, dócil aos mandamentos da casta acadêmica, opiniões individuais e reflexões, me parece estupidez. “Fique em Casa”, o mantra dos que percebem a realidade filtrada pelos óculos da classe. Muitos deles talentosos e com as intenções mais inocentes. Cobrar de artista análises e qualquer racionalidade é ridículo; grotescos são os que se enfurecem com habitantes de sonhos)

O Pós-PT se anima a pular anos de espera por ter percebido a massa indefesa diante do Estado e dos setores organizados. Como rato que vira corajoso ao se perceber temido.

O que o Pós-PT contempla de rendição duvido imaginasse possível, ou tão antes da hora,e muito da fúria que exibe em seus delegados sem dúvida vem desta percepção,deste susto agradável. O Sistema de Poder do PT e associados exibe mais calma,sabe que a opressão do Pós-PT o exibe benévolo e futuro (quando o Pós-PT se esgotar) beneficiário da boa vontade da população. Os adversários sinceros destas Esquerdas nada terão a colher, a massa os acusará, com muita razão, de ser a culpada; não que não tivessem um plano B, não tinham plano A…

Pois se cada um tornou-se fiscal implacável de grau de ajuste de máscaras e distância entre pessoas nas filas ao mesmo tempo que se mostra temeroso de emitir qualquer ponderação ou questionamento (como questionar os ônibus que circulam com janelas fechadas e ar condicionado,como muitos aqui em Belo Horizonte, por exemplo) é por comodidade ou sobrevivência. O cidadão comum não pode lutar o que agentes políticos ou formadores de opinião com algum prestígio e Poder não lutam, simples.

O Pós – PT está dominando este momento por ter se preparado, esta é a verdade, e os que não julgaram necessário se preparar para situações inesperadas na verdade não julgaram se preocupar com coisa alguma. E se os leitores desejam saber minha opinião, duvido tenham aprendido algo.Não noto nos adversários do Pós-PT sequer a identificação do seu trabalho, quanto mais algum esforço coordenado para enfrentá-lo.

Se o governo Bolsonaro acabou? Ninguém tem a resposta. Comunicar-se mais,  estabelecendo diálogo mais franco com a população talvez seja o (único?) meio de sua sobrevida. Confessar perplexidades, admitir falhas, anunciar com alguma competência as medidas de combate ao vírus. Mexer-se mais, abandonar as cordas, enfim.

Todos ganharíamos.

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